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Par aubadedelavie, le 02.09.2013
perguntas duma adolescente no limiar do ano de 1962. http://aubaded elavie.centerb log.net
Par aubadedelavie, le 23.06.2013
image.: arranjo da autora.http:// aubadedelavie. centerblog.net
Par aubadedelavie, le 17.06.2013
obrigada antónio manuel. assim esperamos que se mudem as vontades.- e. m. v.http://aubad edelavie.cente rblog.
Par aubadedelavie, le 24.03.2013
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Date de création : 09.09.2012
Dernière mise à jour :
12.01.2025
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CRÓNICAS SEM PÉS NEM CABEÇA
RETRATOS PASSADOS
História de embalar
Um dia, numa bela aldeia suspensa nas nuvens lá para o cimo da montanha, vivia uma cabrinha despreocupada, tão despreocupada...
Chamava-se Didinha, mas todos achavam que tinha uma cabeça de andorinha, camavam-lhe andorinha. Era muito engraçada e alegre, por isso tinha muitos pretendentes mais ou menos bonitos, uns ricos outros menos ricos. Olhavam para ela com olhos de vaca quando ela passava de cabeça de andorinha levantada e com a barbicha a esvoaçar. Era um coração de pedra envolto em beleza!
«Avó, já conheço essa história de cor e salteada, contas sempre a mesma! Um dia casou com um lindo bode com coração de pedra que a levou para a lua-de-mel à beira- mar. Mas ele era um rochedo, levou-a com ele para o fundo do mar e transformou-a em rochedo. Desde esse dia ela inunda o oceano com lágrimas e suspira morrendo de saudade pelas suas queridas montanhas. E pronto. Acabou! Tinhas-me prometido outra coisa !»
Ouve, meu querido. Conheces a História da águia? Ora escuta.
A águia é o imperador das aves voadoras, como o lião é o rei dos animais na selva. A águia paira muito alto por cima da planície. Sai do ninho edificado nas nuvens, ninguém sabe donde vem, nem quando vai aparecer. Olhamos para cima e vemos a ave majestosa, voando até ao sol, prescrutando a pobre presa cá em baixo: nada escapa ao seu olhar penetrante, e num ápice cai como um raio sem deixar a mínima hipótese de fuga à vítima. Ferozes e potentes as garras apertam o animal indefeso que vai ser despedaçado sem piedade; quer seja pequeno como um rato ou grande como um cordeiro.
«Ó Avó, julgas que vou acreditar que uma ave pode com um cordeirinho pelos ares? Essa ainda é pior do que as cegonhas que trazem os bebés no bico!»
Se não acreditas pergunta ao teu pai quando voltar, ou à tua professora e vais ver como é verdade. Mas ouve:
Maria das Flores tinha dois gémeos com três meses. A Maria andava labutando no campo como toda a gente escrava de tanto trabalho, coitada. Levou os gémeos com ela e deitou-os num cesto, debaixo duma oliveira, bem agasalhados com uma coberta de lã de ovelha, porque era em Março e havia um vento fresco.»
«E também há oliveiras na montanha, avó?»
Pára lá de me interromper, Carlitos, claro que há. Onde é que eu ia? Ah! A Maria mondava o feijão, mas sempre com um olho no cesto lá perto. Os bebezinhos dormiam como anjinhos sorrindo aos anjinhos que brincam às escondidas com as nuvens.
De repente, um grito : a Maria grita de terror e corre. Vê projetar-se no chão a sombra ameaçadora duma águia, tenta ultrapassá-la, em vão. Um raio negro se abate sobre o cesto e quando a Maria chega, faltam os dois meininos. A águia grita de alegria, a mãe grita de horror e o meninos nem sequer dão por nada, envoltos na roupa que os protege.
Felizmente, Ângelo, o pastor, espiava a águia que lhe devorava o rebanho e ao avistá-la, ajustou a espingarda e pum! Não a abateu, mas fez-lhe tanto medo que a águia abriu as garras e largou a presa. Os meninos cairam num monte de feno “Pluf!”. A Helena, mulher dele ouviu os vagidos dos bebés, foi ver... e o que viu, ai Deus meu!? Até esfregou os olhos, pôs-se a chorar. Há tanto tempo que esperava um filho e ali estvam em duplicado, rosados e gordinhos, nascidos no feno; mas não foi a cegonha branca que trouxe, ela bem viu uma águia negra voando!
Entretanto a Maria foi correndo à aldeia, todos começaram procurando as criancinhas nos socalcos e encostas, nem sombra de meninos chorando.
Enquanto a Maria chorava de dor, o Ângelo e a Helena estavam felizes com aqueles pequenitos caídos do céu. E como a felicidade chama a felicidade, nove meses depois nasceram-lhes gémeos também e desta vez não foi no monte de feno, foram bem vivinhos saídos da barriguinha da mãe.
A Maria não se resignou. Partiu pelo mundo fora chamando os filhinhos e chorando com voz dorida. Todos pensavam que tinha enlouquecido. A pobre atravessou as planícies, a charneca, atravessou regatos e ribeiros. Passara mais de um ano e nem parecia ela: magra, esgotada e com a roupa esfarapada. Cansada, deitou-se num monte de feno e desejou morrer ali, pois não podia viver sem os filhos.
A Helena e o marido chamavam-lhes Castor e Polux. Eram duas criancinhas vivas e marotas, que já corriam por todos os cantos aos 18 meses. Afastaram-se um pouco da casa para o campo e começaram a rolar num monte de palha, e Helena foi buscá-los pronta para lhes ralhar... e o que vê? Uma espécie de bruxa negra e toda rota, até ficou sem voz e fez o sinal da cruz!
Chama pelo marido que acorre, e entretanto a Maria acorda com aquele barulho todo, põe-se a chorar olhando para Castor e Polux, e conta a sua triste história. «Seriam agora como os vossos ali, se fossem vivos ! O meu marido anda emigrado, vai chegar e o que lhe vou contar ? »
Comovidos, Maria e Ângelo olham um para o outro. Agora compreendem. Perguntam: “e como se chamavam os seus gémeos?”
“Chamavam-se Miguel e José, o nome dos dois avôs paterno e materno.».
O casal pegou na mão de Maria e levou-a para dentro, deu-lhe de beber leite de ovelha e de comer e disseram-lhe para ela se compor um pouco, Helena deu-lhe uma bata, e falou-lhe com carinho. Apesar de magríssima e do seu ar triste, Maria parecia agora uma mulher ainda bonita. Perguntou-lhe se ela ainda esperava encontrar os filhos.
Castor e Polux brincavam despreocupados correndo atrás dum cordeirinho e imitando o cão a ladrar.
O casal gostava muito dos filhos adotivos, mas não podia deixar aquela mulher no seu desepero. O Ângelo começou a contar a história duma águia que lhe devorava o rebanho... e a Helena disse que ouviu chorar e viu dois meninos no monte do feno.
“Ficámos com eles e quer ver? Tivemos a alegria de ter outros gémeos...Ora venha ver...” Mas a Maria já não ouvia mais nada, só ouvia que ali tinham caído os seus meninos no feno. A Helena chamou: “Castor Polux, venham cá, vocês chamam-se agora Miguel e José e esta é a vossa mãe que vos vem buscar!”
A alegria da Maria era tão forte que pensou que estava a sonhar, levou algum tempo a recuperar antes de abraçar os seus filhinhos e o casal que os tinha recolhido.
Quando se foram embora para apanhar o autocarro, a fez prometer ao casal que iriam encontrar-se de novo para os três anos dos gémeos e fariam todos uma grande festa.
Na aldeia, quando viram a Maria chegar com os meninos nem queriam acreditar, ela teve que contar a história muitas vezes e houve festa em casa, sobretudo que o pai chegou também de longe nesse dia.
E sabes uma coisa? O apelido de Castor e Polux ficou-lhes. Se os procurares, vais encontrá-los acolá, perto da linha do horizonte onde vivem.
Diz lá! Gostaste da minha história?
«Ó avó, tenho seis anos! E ainda bem, senão podia acreditar na tua história sem pés nem cabeça!... Caramba, por ser pequena pensam que sou idiota!»